domingo, 27 de março de 2011

Insanidade colorida / Insanidade Índiana

Caros leitores que acompanham meu blog, chegamos aos mais de 1000 views! Se isso é sinal de sucesso de um blog de viagem eu não sei, mas agradeço profundamente aos que entram e que apoiam o blog e que cobram atualizações, isso só me motiva a escrever mais. Peço ainda desculpas por não postar com mais frequência, a minha rotina de escrever no trabalho já não existe mais, como todos sabem a frase "quem procura acha".. e eu procurei trabalho e agora tenho em demasia, não me sobra tempo para escrever, mas vamos parar com meias palavras e meias desculpas e escrever sobre o que realmente importa, "a alta do dolar?" me pergunta o leitor desinformado e eu respondo! "NÃO!".. é o HOLI!

O Holi para quem não sabe é uma festa religio-carnavalesca-que-marca-o-inicio-da-primavera ou de acordo com as histórias o dia em que Holina, filha de um demonio que dominava a cidade de Vindravan, foi queimada por tentar colocar seu irmão menor, já então seguidor de Krishna no fogo eterno, é mais uma história da vitória do bem contra o mal. Importante saber como eles comemoram isso aqui, a festa é também conhecida como festa das cores, aonde todos compram cores e jogam uns nos outros e/ou passam educadamente no rosto das outras pessoas. Vrindravan é de acordo com a história o local de nascimento de Krishna e o local aonde Holina foi queimada, possui então o mais louco e fervoroso Holi de todos, se os é assim para os Índianos, imagina para extrangeiros.
Nem o Google manja!

Acordamos cedo no dia 17, simplesmente abri o olho e o Dennis nos falava, daqui a dez minutos todos prontos para partirmos, o plano era deixarmos as malas no quarto dele que iria ficar mais um dia na cidade pois desejava conhecer o Taj e depois seguir viajando, vantagem, não precisaríamos levar no ônibus as coisas e teríamos aonde nos banharmos após a volta, o problema é que o motorista não tinha sido avisado do plano, não queria voltar para Agra e perder duas horas de viagem a toa, então após muita discussão todas as nossas coisas foram colocadas no micro ônibus e partimos não seis como planejado, mas sete da manhã, duas horas de viagem as quais tentei dormir novamente sem sucesso, não sei se era falta de sono mas com certeza sentia uma certa apreensão do que iríamos vivenciar lá.

Quando nos aproximávamos de Vrindravan começamos a perceber pela janela de nosso ônibus que o buraco lá é mais em baixo, não eram nem nove horas e já víamos centenas de pessoas sujas. Quando saímos do ônibus parecíamos celebridades, primeiro, éramos os únicos estrangeiros que a cidade via em alguns dias e segundo, todos os indianos adolescentes (de Vindravan) tentam de alguma maneira tirar uma casquinha, a aproximação é sempre a mesma, "passa no cabelo dela, passa no rostinho dela, passa no pescoço dela... desce mais um pouquinho". Mas vou comentar que não são todos assim, existem grupos e grupos, é como a criança que deixa a mão na frente do corpo pra tentar tirar uma casquinha da professora de educação física ou natação e os adolescente com seus hormônios estourando, sei que é errado mas não vamos culpa-los, era Holi, esse dia se pode fazer quase o que quiser.
Isso eu chamo de vestir a camisa! (ou tira-la)

(Gutcha nesse momento abre uma King Fisher Strong, precisa de um pouco de inspiração líquida hahaha)

Holi parte um! O Holi sentido templo!

O plano era andar até o templo e quando lá chegássemos tudo seria melhor, há, se isso fosse verdade! O caminho para o templo (cujo Karan não sabia aonde era inicialmente) passava pelas estreitas ruelas da cidade sagrada, as ruelas continham centenas de pessoas nessa grande brincadeira, comemoração, que é o Holi, todos munidos de suas cores verde, amarela, rosa e magenta, águas coloridas jogadas de cima dos prédios e agua do esgoto jogada em baixo dos prédios, nesse dia, tudo é permitido de se jogar, e para os indianos, tudo é permitido para fazer, não importando se os outros aceitam isso ou não. Adentrando a cidade se vai ao templo, entrincheirados por prédios de quatro andares onde turistas ou não assistem a festa o que se passa dentro de nossa cabeça é uma misto de horror e felicidade, um misto de sentimentos inexplicáveis no momento e até agora. Para as meninas foi mais difícil e complicado, principalmente os baldes de agua suja e as milhares de mãos simultâneas tentando apalpa-las, exatamente por isso nossa missão era de proteger-las.
Entrincheirados!

Engraçado pensar que éramos os únicos estrangeiros na cidade e que isso explica toda a atenção que recebemos de todos. Após rajadas de pessoas, agua suja, muita festa com musica indiana nas ruelas da cidade chegamos ao templo, o lugar estava lotado, mais um detalhe que só eu percebi era a imensidão de ténis que jaziam nas escadarias do templo, não é permitido usar calçados nos templos na Índia, e centenas de barracas com as mais cheirosas e apetitosas Junk Foods que você já viu na vida, mas cuja impossibilidade de parar só tornava a vontade maior. Comida de rua sempre foi algo extremamente apetitoso pra mim, provavelmente os milhares de churrascos gregos que comi na minha vida só foram uma preparação para o que iria experimentar aqui.
Janka e o Menino!

Leitor atento, talvez esse tenha sido um dos momentos mais frustrantes da minha vida, após a luta que tivemos para chegar ao templo, decidimos não entrar, lá provavelmente estaria tão lotado que não seria possível jamais irmos e voltarmos todos juntos, a decisão foi de continuar em frente por um caminho que não fazíamos ideia se nos levaria ao nosso ônibus, mas porque não? Importante explica-los que a decisão de não entrar no templo foi ao mesmo tempo maravilhosa e frustrante, não bebemos Bangh (bebida feita com base na folha de ópio!) e não conhecemos o centro de Vindravan mas tivemos a oportunidade de vivenciar a outra parte do Holi.
Inspiração pra uma obra pos-moderna?

Holi parte II -  O Holi de "Guerrilha"

Saindo da muvuca pensamos "estamos salvos", não que eu quisesse ser salvo mas duas das meninas, alemãs (e típicas), não queriam entrar no templo de jeito nenhum e eu não as culpo, mal sabiam elas e nós que tudo passava de uma pequena ilusão, Holi é dia de loucura, Holi é dia de se sujar, Holi é dia das gangues de crianças.
Me sentindo um URUK-HAI!

Entramos em uma estrada de terra na qual vimos um lado da Índia que não se vê nas fotos, pessoas se divertindo em bares, passando tintas nos outros, conversando, dançando Bangra (dança de Panjabi Music) e curtindo o momento, muito receptivos, passaram tinta nos nossos rostos, testa e bochechas, abraços e conversa (não muita pelo Inglês) e caminhada em uma estrada de terra com dezenas de antigas construções religiosas que provavelmente não são usadas a anos e cuja idade é difícil de adivinhar, tudo parecia bem, apesar de o caminho ainda ser obscuro. Descobrimos ainda um detalhe, mesmo sendo uma rua não movimentada, as famílias abrem os portões de casa e esperam pacientemente pessoas passarem para brincar Holi como  uma espécie de gang, um ataque descoordenado a alvos moveis que querem passar pela seu local (vide: The Warriors hahaha). Agua e tinta são sua arma, e se você já jogou algum jogo como mãe da rua sabe que a pior estratégia é ser o primeiro, ainda pior que essa é ser o ultimo.

Nessas e outras eu segui a estratégia básica, andei normalmente como se nada estivesse acontecendo e não era alvo dos outros, já os outros sofreram muito com essas Gangs, o pior é que sempre que passávamos por uma e pensávamos, acabou, havia outra a frente te esperando.

Não sei quantas horas andamos mas foi extremamente divertido, garantida que uma diversão muito louca mas extremamente diferente de algo que já  havia vivenciado.

Chegamos ao nosso ônibus e nesse momento estávamos todos rosas (a união de todas as cores não é branco, é rosa! Aprendam isso!) encontramos nosso motorista lá, ele por sua vez se recusou a nos levar a Chandigarh no nosso estado, e o que fazer, procurar algum lgar para tomar banho! Agora pense banho de mangueira no Jardim de uma casa após o Holi, não é uma tarefa fácil, imagine-se agora fazendo isso com indianos doidos para ver uma gringa se arrumando, e eles fazem isso de modo extremamente engraçado, eles param e olham, ai continuam e voltam nas motos e param, ai saem e voltam, com diferenças de vinte segundos entre as tentativas, no começo de minha vida aqui eu pensei, igual os brasileiros.... não, MUITO piores que os brasileiros, não fazem idéia.

Após o pseudo-banho bem tomado e ainda com muitas cores que não saiam pegamos o onibús e vimos o Denis deixando-nos para voltar a Agra, só estava começando sua viagem. Nós voltamos a Chandigarh de ônibus, e advinha, festa novamente.
E a tinta que não sai!

Passando por Delhi três horas depois tive uma das melhores sensações de minha, a sensação de que você realizou algo na sua vida, algo extremo e que não consegue explicar, apenas mantém um sorriso bobo na cara, consigo imaginar que talvez eu estivesse apaixonado, mas não por uma pessoa, por um momento de minha vida. Cansado (exausto) voltamos para casa, o meio do caminho na parada compramos uma garrafa de Whisky (Blender´s Pride) e Pepsi e voltamos ao ônibus, nesse meio tempo fiz amizade com o motorista que mesmo sem falar inglês me disse boa noite (EM PORTUGUÊS!) quando chegamos ao nosso humilde lar.

Iliada comentou ainda com Marta minha incrível capacidade de fazer amigos nas seguintes palavras "Como é capaz de você conseguir fazer amizade com qualquer um?" e eu lembrei de algo que o Urso (Rodrigo Yamawaki) me disse quando voltei do Jamboree da Argentina. Você pode simplesmente jogar o Gutcha em um buraco com mais duas pessoas por dois dias e no final dos dois dias eles serão grandes amigos e terão rido muito. Acho que em partes isso é verdade.

Missão cumprida, ter um dos fim de semana mais loucos e incríveis de minha vida, parte da experiência na Índia, parte da minha vida e agora um pouco da de vocês.Difícil ainda agora ver as imagens e acreditar que aconteceu, ainda as vezes nem acredito que estou na Índia esperando esse sonho acabar e eu acordar atrasado pro trabalho.

Espero que tenham apreciado (aos que chegaram ao fim desse longo post escrito ao som de pennywise, offspring, goldfinger e sublime) ler um pouco do que foi meu Holi, obviamente tem sensações inexplicáveis e íncriveis, mas se vocês estão se apaixonando pela Índia assim como eu só peço que voltem, semana que vêm tem posts novos e um pouco mais rotineiros mas ainda assim íncriveis.

Aos que apreciaram as fotos, o fotógrafo se chama Martin Nemcek da Eslováquia e se quiserem deixem uma mensagem para ele no facebook apreciando as fotos que aqui estão.

Beijos a todos... beijos a mim mesmo, beijos a vocês todos, seus lindos!
Gu-gu-gu-tcha-tcha-tcha!

5 comentários:

  1. Guuuu... vou dar uma sugestão!

    Como vc está sem tempo pra escrever, pq não faz posts em vídeo? (vc, de frente pra camera, contando td o q aconteceu, hehehe)

    ***assim fica um pouquinho mais fácil de matar a sdd tb***

    bjos
    cuide-se

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  2. Meu filho lindo eu também já estou me apaixonando
    pela India, tão feliz fico de vir aqui todos os dias ler suas aventuras e o quanto você esta feliz com sua nova vida na India, feliz de saber o qunto
    vc.esta feliz...
    grande beijo
    sua mamis

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  3. Mila! Apesar de ser uma boa ideia eu não vou fazer vídeo blogs pois isso simplesmente destrói a mágica de escrever o que sinto. É bom ter que pensar no que falar e não falar tudo que se pensa, mas claro que posso fazer um vídeo quando achar necessário. Beijos!

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  4. Gutcha!! To amando ler as suas aventuras! ahahhaa
    Saudades de vc... MUITAS!
    Beijos

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  5. Hoje, terminei meus projetos após quase 3 meses praticamente diários nisso e pensei: Que tal ler o blog do Gutcha que esta no meu favoritos a tempo e ainda não tive tempo? Fiz isso.. e digo mais.. entre seus posts, ligações recebidas com resposta de "estou ocupado" e meus emails empresariais recebidos sendo marcados como lidos durou cerca de 2 horas e 30 minutos..
    depois de toda a leitura, concluo: TERIA UMA VAGA NO SEU QUARTO NA INDIA???


    AUISHAIUSHILAUSHIUAHSIUAHS

    Dos males o menor..

    Mazzoco Maroto

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